Presidente Lula e o presidente da Argentina Alberto Fernández, discutem criação de moeda comum

Presidente Lula e o presidente da Argentina Alberto Fernández, discutem criação de moeda comum

O Brasil e a Argentina exploram a possibilidade de desenvolver um mecanismo de intercâmbio comercial baseado em uma moeda comum que reduza a dependência do dólar, anunciaram nesta segunda-feira (23) os presidentes dos dois países após uma reunião em Buenos Aires.

“O que nós estamos tentando trabalhar agora é que nossos ministros da Fazenda, cada um com sua equipe econômica, possa nos fazer uma proposta de comércio exterior e de transações entre os dois países, que seja feito numa moeda comum a ser construída com muito debate, muitas reuniões”, explicou Luiz Inácio Lula da Silva em coletiva de imprensa.

O presidente Lula, que chegou no domingo a Buenos Aires em sua primeira viagem internacional desde que assumiu a Presidência, em 1º de janeiro, lembrou que Brasil e Argentina “já tiveram uma pequena experiência em fazer negócios nas moedas de nossos países” na primeira década do século XXI.

Essa experiência foi “tímida, porque nossa decisão não foi impositiva, foi mais optativa”, acrescentou Lula. “Não foi uma coisa que influiu com a força que nós imaginávamos”.

O ministro da Economia argentino, Sergio Massa, havia dito ao Financial Times, antes da reunião entre os presidentes, que os dois países dariam início aos estudos para viabilizar esta alternativa.

O objetivo seria reduzir a dependência em relação à moeda americana em transações internacionais.

“Se dependesse de mim, a gente teria comércio exterior sempre nas moedas dos outros países para que a gente não tenha que depender do dólar. Por que não tentar criar uma moeda comum entre os países do Mercosul? Por que não tentar criar uma moeda comum entre os países do BRICS?”, questionou Lula.

O petista, no entanto, admitiu que “tudo o que é novo precisa ser testado”. “Não sabemos como poderia funcionar uma moeda comum entre Brasil e Argentina ou na região. Mas sabemos como funcionam as economias nacionais com moedas estrangeiras”, criticou o presidente da Argentina, Alberto Fernández.

O real foi criado em meados da década de 1990 como parte de uma estratégia de combate à inflação. No início dessa mesma década, a Argentina criou o atual peso argentino para substituir o “austral”, também em meio a uma crise de hiperinflação.

As trajetórias muito diferentes das duas moedas desde suas criações ilustram os desafios do projeto. Enquanto o Brasil possui um mercado de câmbio formal regido pela oferta e demanda, a Argentina possui diversas taxas de câmbio que incluem a oficial, outras para transações comerciais, turismo ou compras de artigos de luxo, e a paralela ou “blue”.

O peso argentino sofre microdesvalorizações diárias no mercado oficial e a defasagem com o mercado informal se aprofunda rapidamente. Nesta segunda-feira, enquanto o dólar oficial era negociado a 191 pesos, o paralelo nas ruas estava em 370 pesos.

Crédito brasileiro

Ao lado do colega argentino, Lula afirmou que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), carro-chefe do apoio financeiro que o Brasil deu aos países emergentes nos dois primeiros mandatos petistas (2003-2010), estará a serviço das nações da região.

“É necessário que o Brasil ajude seus parceiros e é o que vamos fazer”, enfatizou.

Veículos da imprensa argentina acreditam que o Brasil financiará parte da construção do gasoduto Néstor Kirchner, que permitirá transportar gás da região do Pampa argentino (centro) até a fronteira com o Brasil, como parte de uma cooperação que poderia envolver a compra de energia elétrica brasileira por Buenos Aires.

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