“Me senti impotente”, disse ex-secretário executivo da SSP-DF, Fernando de Souza Oliveira
Começou na manhã desta quinta-feira (2) os depoimentos na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos atos antidemocráticos. E o primeiro a falar foi Fernando de Souza Oliveira, ex-secretário executivo da Secretaria de Segurança Pública do DF (SSP-DF).
Ele estava à frente da pasta com a ausência do titular Anderson Torres. Entretanto, durante seu depoimento, ele deixou claro que somente assumiria a pasta de maneira formal no dia seguinte aos ataques, em 9 de janeiro, por meio de portaria publicada no Diário Oficial do DF (DODF).
Chico Vigilante, presidente da CPI, fez uma série de perguntas a Fernando de Souza, a fim de entender qual era seu papel e o que causou as falhas no dia 8 de janeiro deste ano. O ex-secretário disse que antes de viajar, Anderson Torres teria deixado um protocolo de ações integradas assinado, mas sem nenhuma orientação específica.
Segundo ele, as forças de segurança mandavam, em tempo real, informações sobre como estavam os manifestantes. Os ônibus começaram a chegar em Brasília ainda no dia 7 de janeiro, e a mídia já informava sobre o crescimento da animosidade, sugerindo que poderia existir um confronto.
Fernando deixou claro que houve um acompanhamento a partir de dois grupos de mensagens, que eram compostos por diversos policiais e demais forças de segurança. “Houve tentativa de desocupação dos QGsm sem sucesso”. Ao ser perguntado do motivo, ele disse que ‘provavalmente o Exército não deixou’.
Durante o depoimento, o ex-secretário executivo fez questão de reler mensagens recebidas nesses grupos de segurança, que afirmaram que o ambiente estava tranquilo.
“Situação tranquila e sem alteração”, “tudo na normalidade”, diziam os policiais que estavam acompanhando os manifestantes.
Ibaneis teria pedido a Fernando pelo menos quatro relatórios diários sobre a situação. Era por volta de 13h quando ele disse que os manifestantes estavam descendo do SMU de forma tranquila, e ninguém precisou ser contido. A informação recebida era de que os ônibus parariam perto da Rodoviária, e lá seriam acompanhados pela PMDF. “Movimentação suave e totalmente pacífica até agora. Nossa inteligência está acompanhando, mas não há agressividade. 150 ônibus no DF, mas tudo de forma ordeira e pacífica. Final da tarde passo mais informações para o senhor”, disse o secretário para o governador por meio de áudio.
Foi então que tudo desandou. Fernando disse que estava em deslocamento para o prédio da SSP-DF quando houve o rompimento da linha da alameda das bandeiras, e então começaram a invadir o Congresso. “Eu fui presencialmente para a Esplanada, mas era muita gente, não consegui chegar lá. Acompanhei as mensagens pelo celular e as notícias pela mídia, e vi que invadiram o primeiro gradil”, afirmou ele.
“A partir daí, tomei a providência. A gente precisava fazer a contensão, proteger e não deixar que nenhuma pessoa entrasse na Praça dos Três Poderes. Isso era função da PM, e não aconteceu. Então determinei a abertura do gabinete de crise, convocando todos os chefes de força da Secretaria”.
Enquanto os terroristas invadiam o Congresso, o Palácio do Planalto e o STF, Fernando disse ter mantido contato com Ibaneis, que determinou que ‘retirassem e prendessem todo mundo’, e também que ‘colocasse toda a tropa nas ruas’. Nesse momento, o gabinete de crise já tinha sido instaurado e todo o efetivo que estava em Brasília havia sido convocado.
Conforme relatado no depoimento, o último contato entre Fernando e Anderson Torres ocorreu na segunda-feira à noite, quando o secretário de Segurança, que estava nos Estados Unidos, perguntou ‘o que deu de errado no plano’. Entretanto, segundo Fernando, não houve um plano concreto de operação.
PMDF
Ainda em sua fala, Fernando disse acreditar ter havido um erro por parte da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF). “Eles deveriam ter feito um planejamento e execução do quantitativo de policiais, viaturas e equipamentos, de onde as tropas deveriam ficar… cabe aos senhores da CPI questionarem o departamento sobre esse planejamento e execução, que não foi realizado. Houve uma invasão praticamente sem resistência”.
Me senti impotende. Perguntei: cadê o plano? Tive que tomar as providências que me cabiam, que estavam dentro das minhas atribuições, como secretário executivo, já que só assumiria a pasta na segunda (9 de janeiro)
Fernando de Souza
O ex-secretário executivo questionou o motivo de os protocolos de segurança que o GDF adota normalmente em grandes eventos, como ocorreu no da posse, não terem sido adotados naquele dia. “Temos que saber o porquê das ações acordadas não terem sido cumpridas”, completou.