João Campos defende parceria entre o presidente Lula e Arthur Lira
O prefeito do Recife, João Campos (PSB), defendeu em entrevista à Folha uma parceria entre o presidente Lula (PT) e o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL).
Aliado de Lula, João Campos também é próximo de Lira e diz ver como natural uma minirreforma ministerial no governo, que está em articulação em Brasília, para ampliar a base aliada no Congresso.
“Conheço Lula e Arthur Lira e acho que os dois têm total capacidade de construir uma grande parceria política em favor do Brasil. Se a gente pacifica a política, ela deixa de tirar energia do Brasil e coloca solução, como foi na Reforma Tributária.”
Em São Paulo, João Campos defende diálogo entre Guilherme Boulos (PSOL) e Tabata Amaral (PSB), possíveis pré-candidatos à prefeitura paulistana e que fazem parte da base do governo Lula, mas diz que cabe à deputada –que é sua namorada– falar pelo projeto político dela.
No Recife, o prefeito afirma que espera contar com a presença de Lula no seu palanque na busca pela reeleição.
Folha – Qual a sua avaliação sobre o início do governo Lula?
João Campos – O presidente assumiu num momento em que precisava reconstruir o país em diversas frentes. A gente viu um verdadeiro desmonte no governo Bolsonaro. Na educação, por exemplo, o ministro só aparecia em conflito ou escândalo. Qual era a agenda do desenvolvimento social e da saúde? Não tinha.
Lula lançou um plano de educação integral, de recomposição do repasse de merenda. O diálogo federativo voltou, e programas como Farmácia Popular e Bolsa Família foram relançados com condicionalidades importantes como vacinação e matrícula escolar.
O presidente preparou a pista para a atividade econômica e equilíbrio fiscal do país e agora vem com um plano de investimento e infraestrutura. Fazer tudo isso em seis meses é muita coisa.
Folha – Em que o governo Lula não foi bem e pode melhorar?
João Campos – É um governo de muito mais acertos. Eventuais pontos a serem melhorados são muito menores do que o conjunto de acertos.
Folha – A articulação política do governo enfrentou instabilidades, inclusive em votações no Congresso. O PSB está satisfeito com a condução dessa área?
João Campos – A articulação política vai se consolidando com o tempo. O que defendo é que haja um alinhamento harmônico entre o presidente e o Congresso, sobretudo a Câmara. Conheço Lula e Arthur Lira e acho que os dois têm total capacidade de construir uma grande parceria política em favor do Brasil. Se a gente pacifica a política, ela deixa de tirar energia do Brasil e coloca solução, como foi na Reforma Tributária.
Folha – Essa pacificação passa por uma minirreforma ministerial?
João Campos – Acho que é natural, todo governo tem adequações ao longo do tempo. A montagem na reta final sempre tem movimentos de consolidação. Alguns movimentos podem ter sido feitos antes com análise correta e depois é natural que tenha reavaliação levando em conta o processo técnico e o processo político. São coisas pontuais e não estruturais.
Folha – O sr. citou a Reforma Tributária, que gerou desgaste para o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, no campo bolsonarista, por defendê-la. Acredita que esse estremecimento pode ter impacto na articulação da direita para as eleições de 2026 e eventualmente beneficiar o grupo governista?
João Campos – Tarcísio fez um movimento correto de Brasil. Historicamente, São Paulo trabalhou para não ser feita a Reforma Tributária, que tributa na origem, e São Paulo produz muito. Isso é uma questão histórica do estado, não é de um político. De maneira geral, você deixa o extremo com menor tamanho. É positivo para o nosso campo, mas também para o campo de centro. Esse extremo estridente não dialoga e é contra as instituições, o Brasil não é assim. A minha avaliação é que o conflito dentro da direita é positivo para Tarcísio.
Folha – O PSB planeja ter candidato em 2026 ao Planalto caso Lula não dispute a reeleição?
João Campos – Nosso projeto é alinhado ao do presidente Lula. A coordenação política desse processo será feita por ele. E qualquer tipo de discussão vai se dar no ambiente interno.
Folha – Como avalia o papel do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB)?
João Campos – Positivamente. Ele é muito correto e leal. É um bom aliado. Lula sabe que conta com ele e com a correção dele. Tem ajudado também como ministro na interlocução com o setor produtivo.
Folha – A deputada Tabata Amaral (PSB-SP) apontou recentemente frustração com o governo por causa dos repasses de emendas de relator e em relação à forma como o presidente Lula recebeu o ditador venezuelano Nicolás Maduro. Concorda com ela?
TJoão Campos – abata tem sido muito leal com Lula, esteve na linha de frente durante a campanha eleitoral. O bom aliado é o que sabe que é parceiro e correto e que tem condições de avaliar pontos que podem ser melhorados. Sobre a Venezuela, o próprio presidente já falou sobre isso. Eu pessoalmente tenho discordâncias reais sobre o que acontece lá, mas o que acontece na Venezuela é um caso da Venezuela e é muito longe do que eu espero para qualquer país, inclusive o Brasil. E você não pode se negar a ter relação com um país mesmo que tenha discordâncias sobre o sistema dele.
Folha – Nas eleições de 2020, o PT não venceu para prefeituras de capitais e viu o número de cidades que governava diminuir. Para 2024, o sr. acha que o efeito Lula, agora presidente, pode beneficiar o partido e seus aliados?
João Campos – Lula é um grande eleitor no Brasil e no Nordeste. Mas as eleições não serão construídas por um único fator, tem uma série de fatores. Espero contar com ele na minha campanha [à reeleição]. Será muito bom se tivermos as forças que estão alinhadas no Brasil juntas nos estados e municípios.
Folha – Esse seu argumento de aglutinar vale para São Paulo com Guilherme Boulos (PSOL-SP) e Tabata Amaral? Ou o PSB não tem chances de abrir mão da candidatura?
João Campos – Acho que o diálogo deve sempre existir, mas cada local tem uma particularidade. Aqui, a gente governa o Recife, lá [em São Paulo] é diferente, onde tem um opositor do nosso conjunto governando. São particularidades que devem ser levadas em conta. Tabata que vai falar por ela. Não é fora de São Paulo que vai se discutir São Paulo. Nosso papel aqui é cuidar do Recife.
Folha – O PT deseja, nos bastidores, indicar um nome como vice na sua chapa. Quais critérios o sr. vai adotar para preencher essa vaga?
Qualquer tipo de discussão eleitoral só vamos abrir em 2024. Discussão eleitoral não ajuda agora. É o momento de cuidar da cidade.
Folha – Há chances de o PT emplacar o candidato a vice?
João Campos – Eleição majoritária se dá pelo conjunto de forças. Não se toma uma decisão por si só ou pelo conjunto. Normalmente é: qual o caminho que agrega mais e junta mais?
Qual a narrativa que é aceita e validada? É uma tese coletiva que vai ser construída ano que vem.
Se o sr. for reeleito, pretende disputar em 2026 a eleição para o Governo de Pernambuco?
Hoje, meu foco não é eleição, é gestão. No ano que vem, meu foco na eleição será Recife.
Folha – E se for reeleito, vai completar o mandato?
João Campos – Daqui para eu ser reeleito, o caminho é muito longo.
Folha – Houve alguns atritos recentes entre a Prefeitura do Recife e o Governo de Pernambuco, como na disputa pela administração de um centro de atendimento para idosos. Essa relação está no patamar adequado?
João Campos – Defendo e pratico o diálogo. Não sou das pessoas que perdem tempo brigando, mas sei defender os interesses do povo do Recife. Infelizmente, estou tendo que entrar na Justiça para abrir um serviço de saúde. É uma coisa inédita. A gente chegou a colocar para funcionar e, por uma ação judicial impetrada pelo governo estadual, foi fechado. Estou brigando para reabrir.
Folha – Qual a sua avaliação do início do governo de Raquel Lyra (PSDB)?
João Campos – Não cabe a mim avaliar. Acho que cabe à população.
Folha – O sr. avaliou Lula quando perguntamos. Não caberia avaliar o governo Raquel por quê?
João Campos – Lula tenho tranquilidade de avaliar, porque ele está fazendo um excelente trabalho, e segundo que ele é um aliado, me sinto parte disso. A quem cabe a avaliação ao governo do estado é o povo. As pessoas podem avaliar se há aumento de violência, se há fechamento de hospital, se há briga para impedir o Recife de abrir uma unidade de saúde, se tem paralisação de obras que vinham acontecendo, se tem rescisão de convênios com municípios do estado, quem avalia são as pessoas.
Folha – Quais são as prioridades da sua gestão para o período até a eleição de 2024?
João Campos – Minha grande prioridade é a construção de uma cidade menos desigual e mais justa. Meu desejo é ter a gestão que mais investiu em educação na história do Recife e na infraestrutura social. Teremos uma obra de contenção de encostas em cada localidade de morro. Isso nunca existiu. Na educação, vamos duplicar as vagas em creches. Havia 7.000 e vamos para 14 mil. São 160 escolas em obra ao mesmo tempo. Isso é fazer por educação.
RAIO-X
João Henrique de Andrade Lima Campos, 29
Prefeito do Recife, é o segundo vice-presidente nacional do PSB. Formado em engenharia civil pela UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), foi deputado federal de 2019 a 2020, quando foi eleito prefeito do Recife. É filho do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (1965-2014)