A importância de preservar
O laboratório de reprodução in vitro do Jardim Botânico de Brasília já trabalha com a reprodução de mais de mil espécies de plantas do Cerrado que estão ameaçadas de extinção. Segundo os profissionais que atuam no projeto, a taxa de germinação para algumas plantas é de 80% a 90% em ambiente controlado dentro do local, enquanto na natureza, a taxa pode cair para menos de 1%. “Ter sucesso na reprodução desses espécimes é sempre uma esperança de ter uma salvaguarda genética”, afirmou Priscila Oliveira, diretora de Vegetação e Flora do local, em entrevista ao JBR.
O número foi alcançado após a reforma e ampliação do espaço, feita em 2021, que dobrou a capacidade de mudas na unidade de conservação, passando de 15 mil para 30 mil por semestre. Até aquele ano, as pesquisas aconteciam em um local improvisado, em uma antiga residência funcional. Para as obras de revitalização, o laboratório recebeu um investimento de R$454 mil do Governo do Distrito Federal (GDF). No começo de seu funcionamento, o local reproduzia apenas orquídeas, e em 2017, começou a cuidar das espécies raras e também de espécies comuns, cuja metodologia é amplamente conhecida.
À reportagem do Jornal de Brasília, a diretora Priscila Oliveira afirmou: “Começamos a testar metodologias para reprodução de espécies nativas do Cerrado raras ou ameaçadas de extinção, mas é um jogo de tentativa e erro, pois todos os resultados são importantes”. Entre as espécies ameaçadas de extinção no Cerrado, a diretora citou o Uebelmannia pectinifera Buining (cacto da região de Diamantina), a Dyckyia sp. (bromélia nativa do Cerrado), a Lychnophora ericoides Mart. (conhecida como arnica), e o Cyrtopodium withneri L.C.Menezes (orquídea nativa do Cerrado).
A equipe do laboratório faz visitas áreas no DF, Goiás e Tocantins, onde são coletadas as sementes das espécies ameaçadas, tudo isso com autorização de órgãos de fiscalização ambiental. Depois da coleta, os especialistas estudam as condições para a germinação e preservação, com a separação de nutrientes e cuidados controlados com a iluminação, temperatura e umidade. A manutenção das plantas envolve ainda a propagação, transferência de sementes germinadas para tubetes, confecção de meio de cultura, lavagem de frascos e esterilização de materiais.
“Se a planta está em fase reprodutiva, os frutos são coletados e direcionados para os testes de reprodução e avaliação dos resultados”, explicou a diretora Priscila. Após a reprodução em ambiente controlado, as plantas são incorporadas aos acervos científicos com procedência comprovada, que inclui todos os indivíduos que se tornam banco de germoplasma da espécie. “Caso ocorra algo e a planta se torne extinta na natureza, aquela espécie pode ser reintroduzida utilizando-se os espécimes das coleções do Jardim Botânico de Brasília”, contou Priscila.
Um dos objetivos do laboratório é contribuir também para a recuperação de áreas tomadas por espécies invasoras, com o plantio de árvores e palmeiras, o que conta com o apoio de outros jardins botânicos do país. O Jardim Botânico de Brasília foi inaugurado em 1985 e foi o primeiro do país a ter a preservação do Cerrado como prioridades, com a valorização de sua fauna e flora. O parque conta com um anfiteatro, uma biblioteca da natureza, escola classe, bosque, casa de permacultura e um centro de excelência. Além de estufas, jardim evolutivo, casa de chá, museu de história natural e outras atrações.
Diversidade
Recentemente, a área técnica do Instituto Brasília Ambiental (Ibram) encontrou as espécies Lobelia brasiliensis e Anemopaegma arvense, conhecidas como catuaba, no Parque Ecológico do Areal, em Arniqueira, e se surpreenderam pois as plantas não eram registradas em nenhum estudo da área. Segundo os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Cerrado, que atinge 13 estados brasileiros, em uma área de 200 milhões de hectares, está em segundo lugar no ranking de espécies ameaçadas, com 1.199, ficando atrás apenas da Mata Atlântica, com 2.845.
O Cerrado possui cerca de 6,6 mil espécies em sua flora, o que o denomina como um bioma de alta riqueza florística, de acordo com o Instituto Brasília Ambiental (Ibram), e diversos fatores podem afetar a distribuição das plantas, como o clima, fertilidade e PH do solo, disponibilidade de água, formação do solo, latitude e frequência de fogo. A variedade desses fatores resulta em formações florestais, savânicas e campestres. “Cerca de 40% das espécies arbóreas são endêmicas, mas também ocorrem espécies compartilhadas com outros biomas”, explica o Ibram.