Na cena do crime: conheça o trabalho das peritas em casos de feminicídio no DF
‘Postura diferente’
Beatriz comanda há um ano e dois meses a Seção de Crimes Contra a Pessoa (SCPe) do Instituto de Criminalística (IC) do Distrito Federal – ela é a 4ª mulher no posto desde a criação da SCPe.
Atualmente, o grupo reúne 34 peritos. Destes, 10 são mulheres.
A SCPe é responsável pela análise das cenas de todos os crimes contra a vida: homicídios, latrocínios e feminicídios.
Desde 2017, os assassinatos de mulheres na capital são investigados, inicialmente, como feminicídios. Durante o trabalho policial, a tipificação pode ser alterada, conforme o caso for sendo solucionado. Devido ao novo método, os registros do crime cresceram 550% (saiba mais abaixo).
A perita Beatriz Figueiredo explica que, devido ao protocolo, todos os profissionais seguem um mesmo Procedimento Operacional Padrão (POP) para a análise desses casos.
Beatriz destaca que toda a equipe é preparada, “independentemente de gênero”. No entanto, reconhece que as mulheres, por vezes, enxergam nas circunstâncias um “lugar comum” às vítimas.
‘A polícia me fez feminista’
Na Polícia Civil há sete anos, Beatriz afirma que o objetivo sempre foi trabalhar na perícia de crimes contra a vida. Mas admite que não sabia o quanto “lidar diretamente com a morte mexe com as pessoas”.
Na cena dos crimes, ela conta que “a recomendação é se manter distante dos familiares”. O objetivo é focar nos indícios científicos da cena, como disposição do corpo e elementos que antecederam o assassinato.
“Não podemos nos envolver demais nas histórias, pra gente não ficar condicionado a buscar um caminho. Precisamos ser imparciais. Claro que tem coisas que não precisam ser ditas. Se a família está abalada, você ouve e vê”, diz.
O que se vê, segundo Beatriz, é que as vítimas costumam ser mortas por pessoas próximas. “Geralmente, essa mulher está morta em casa ou no ambiente de trabalho. Claro que há casos de mulheres encontradas na rua. Mas, na maioria das vezes, é no ambiente onde ela deveria se sentir protegida, que é a casa dela, onde acaba morta pelo marido ou namorado”, aponta.
Feminicídios no DF
A lei do feminicídio foi sancionada em 2015, definindo o crime como aqueles motivados por “razões da condição de sexo feminino”. Segundo a norma, são incluídos nessa classificação os casos em que há:
- Violência doméstica e familiar
- Menosprezo ou discriminação à condição de mulher
No ano da sanção, houve 6 registros de feminicídio no DF. Já em 2019, o número subiu para 33 casos.
- 2015: 6 casos
- 2016: 21 casos
- 2017: 17 casos
- 2018: 28 casos
- 2019: 33 casos