Máquinas de lavar e secar roupas compradas para presídios, por mais de R$ 500 mil, estão guardadas há 8 meses no DF
Máquinas de lavar e secar roupas, que custaram R$ 558 mil, estão guardadas no Distrito Federal há 8 meses. Os equipamentos foram comprados para os presídios, porém, permanecem encaixotados.
O Governo do Distrito Federal (GDF) abriu licitação para comprar seis máquinas industriais de lavar e seis de secar em julho de 2019. A justificativa foi a necessidade de “evitar proliferação de doenças infectocontagiosas que podem se alastrar nos presídios caso não haja uma eficiente higienização das roupas usadas pelos apenados”.
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A estimativa feita pelo governo mostrava que 135 mil toneladas de roupa poderiam ser lavadas por semana. O apurou que o GDF comprou os equipamentos sem avaliar se os dispositivos poderiam ser instalados nos presídios e que as unidades da capital não têm infraestrutura elétrica e hidráulica para a instalação.
Já a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seape) afirmou que “estão em andamento” as providências para a instalação dos equipamentos, “mas ainda não há previsão para que isso ocorra”.
Em outro comunicado, a pasta explicou que os presos não têm uniforme específico e que a maioria das roupas brancas que eles usam é entregue por familiares e, portanto, as peças são lavadas pelos próprios detentos.
Entrega do equipamento
Máquinas de levar e secar de presídios estão estocadas há 8 meses no almoxarifado da SSP, no DF — Foto: TV Globo/Reprodução
As máquinas de lavar e secar foram entregues em novembro do ano passado. Oito meses depois da chegada, o equipamento ainda não foi encaminhado ao presídio e permanece guardado no almoxarifado da Secretaria de Segurança Pública (SSP), que fica no Setor de Garagens Norte (SGN).
Na época da entrega, os responsáveis por acompanhar o contrato disseram que os equipamentos não haviam sido testados e que não era recomendado abrir as máquinas, caso não houvesse previsão de instalação.
Como funciona hoje
A advogada criminalista Vanessa Vitória, que visita o Complexo Penitenciário da Papuda pelo menos duas vezes por semana, conta que os próprios detentos lavam e secam as próprias roupas. Segundo ela, tudo é feito dentro das celas, com produtos como sabão em pó e água sanitária, levados pelos parentes.
“Os locais são pequenos, superlotados, o que acaba gerando mofo, que pode causar doenças contagiosas. A gente acompanhou o surto de doença de pele na Papuda”, disse a advogada.
Conforme Vanessa, há relatos de familiares de presos que afirmam que os detentos pedem que os parentes não levem toalhas e cobertores grossos para eles usarem porque não há como estender direito para secar. Uma mulher que preferiu não se identificar conta que leva roupas e produtos de limpeza para o marido, mas os detentos não têm alternativas para higienizar as vestimentas.
“Não tem essa opção [com máquina] pra nenhum presidiário. Todo material de limpeza e higiene é levado pelos familiares”, contou a mulher.
O que diz a Secretaria de Administração Penitenciária
“A Secretaria de Estado de Administração Penitenciária do Distrito Federal (Seape/DF) esclarece que, atualmente, não há uniformes específicos fornecidos pela Seape para todos os presos.
A uniformização que se tem é que todos os custodiados usem integralmente roupas e chinelos brancos. As roupas também podem ser fornecidas por familiares.
Sendo assim, os únicos custodiados que usam uniformes são os classificados para o trabalho interno nas unidades prisionais. O objetivo é diferenciar os presos que trabalham dos demais. Os uniformes ficam sob a guarda do próprio preso classificado, responsável pela sua lavagem.
Ressalte-se que a Seape estuda os trâmites licitatórios para verificar a viabilidade de comprar uniformes aos reeducandos.”