Jair Bolsonaro deve explorar imagem de perseguido pelo TSE
A campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) deve utilizar as decisões do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) sobre os direitos de resposta ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para reforçar a mensagem de que o mandatário é perseguido pela corte e tem sido alvo de censura.
De acordo com interlocutores, a mensagem deve ser explorada independentemente do resultado do julgamento do plenário virtual do TSE neste sábado (22), quando os direitos de resposta concedidos a Lula serão mantidos ou anulados. Isso porque aliados do presidente acreditam que os ministros da corte tendem a confirmar uma decisão pró-Lula.
Nos últimos dias, integrantes do TSE decidiram conceder direitos de resposta na TV às campanhas de Lula e Bolsonaro –sendo que o petista foi o maior beneficiado.
Se o plenário do TSE confirmar todas as decisões, a reta final da propaganda de rádio e TV será alterada.
Somados os blocos diários e das inserções de 30 segundos, o petista pode acumular cerca de 5 horas e o presidente, 2 horas.
Outras decisões que geraram críticas por suposta censura por parte de aliados de Bolsonaro são a que expandiu os poderes do TSE no combate a fake news e a que abriu investigação contra a rede Jovem Pan por suposto tratamento desigual a candidatos.
Auxiliares de Bolsonaro dizem que já contavam com uma possível avalanche de direitos de resposta por causa da agressividade de peças veiculadas nas últimas semanas. Consideram que valeu a pena correr o risco porque as inserções associando Lula à votação em presídios e à corrupção foram importantes para manter aceso o antipetismo no eleitorado cortejado por Bolsonaro.
Aliados já colocaram em prática a retórica de acusar o TSE de cometer censura. De acordo com eles, além de repercutir bem entre apoiadores mais ideológicos do bolsonarismo, esse argumento é efetivo em algumas parcelas de votantes em São Paulo, um dos principais focos da campanha.
O ministro da Secretaria-Geral, Luiz Eduardo Ramos, disse em seu Twitter: “Pelos últimos acontecimentos, não podemos admitir que a censura se instale no Brasil em pleno século 21”.
“Nosso lado está impedido de divulgar fatos que foram noticiados, enquanto o outro lado alega ‘liberdade de expressão’ para caluniar, injuriar, difamar, ameaçar, incitar prática de discriminação, mentir, manipular… Nunca foi tão fácil escolher”, afirmou João Henrique Nascimento de Freitas, assessor do gabinete pessoal de Bolsonaro.
Integrantes da campanha reconhecem que não é positivo perder o espaço na televisão para Lula na reta final, mas minimizam a capacidade do petista de virar votos com as inserções.
Em tese, Lula deverá responder apenas sobre temas relacionados aos pedidos de direito de resposta. Ou seja, ele deverá rebater em diversas inserções a declaração de que é o mais votado em presídios e as acusações de ser ladrão e corrupto.
O tema da corrupção, para integrantes da equipe de Bolsonaro, é o calcanhar de Aquiles de Lula. Para a campanha do atual presidente, ele não tem conseguido responder de forma satisfatória a provocações sobre o tema.
Segundo assessores de Bolsonaro, quem ainda não foi convencido da inocência de Lula dificilmente mudará de opinião nos últimos dias da campanha –o que reduz o potencial ofensivo dos direitos de resposta sobre esse assunto.
Na quinta-feira (20), Moraes anunciou uma reunião entre as equipes jurídicas de Lula e Bolsonaro para tentar alcançar um acordo no sentido de reduzir os ataques na última semana do pleito e adotar um tom mais propositivo. De acordo com interlocutores, o entendimento envolveria uma negociação entre as partes para que os pedidos de direitos de resposta fossem eventualmente retirados.
Um gesto nesse sentido foi descartado por Lula. “Hoje falei com o advogado, ele ia conversar com o Alexandre de Moraes. Houve uma proposta de acordo e eu disse que não tem acordo. Se nós ganhamos 184 [inserções] e perdemos 14. Ele que utilize os nossos 14 e nós utilizamos os 184 dele”, declarou Lula.
Aliados do petista dizem que os direitos de resposta foram conquistados por causa de ataques disparados por Bolsonaro e que não há razão para abrir mão de um direito concedido pelo tribunal. Além do mais, eles dizem que o histórico de fake news criadas pela equipe do atual presidente dá pouca credibilidade a qualquer promessa por uma campanha menos agressiva.